entre_lugares

O título desta coletânea de ensaios, Poesia: entre-lugares, traz um duplo movimento: pensar a poesia como um “lugar”, uma casa, um refúgio, um território; e, ao mesmo tempo, pensá-la como um campo que a todo tempo se comunica com outros, que faz borda, margeia, outros, criando um lugar que é, sempre, de intersecção. Algo como uma busca, uma motivação, ter a poesia como criação de outros lugares possíveis, de outros modos de se viver, de se relacionar. Lugares que podem estar até no futuro, em coisas a ganharem corpo, a ganharem terreno, ainda. E que, portanto, implicam diálogos constantes com outros lugares, que podem ser ou não as outras artes ou outras áreas do saber, pois podem ser também campos menos delimitados, menos codificados, menos prontos, lugares novos, por vir, por se inventar.

Poderíamos falar um pouco das relações que os poetas sempre tentaram travar com aquilo que estaria de fora da dita poesia – Baudelaire e a caricatura ou 
a moda; Goethe e a biologia; Mallarmé e a música; Valéry e a dança; Artaud e o teatro; Apollinaire e o desenho, a pintura; nossos modernistas e as intersecções entre as artes; Fernando Pessoa e a filosofia ou o ocultismo; Clarice Lispector e a filosofia; Samuel Beckett e a filosofia e o teatro, a performance… Mas lembrar disso é também lembrar que a poesia ou a literatura, de modo mais ampliado, não tende a ela mesma, não visa a chegar a um objetivo exclusivamente literário. Se tantos artistas sentiram mais claramente a necessidade de buscar esses trânsitos, essas contaminações, de algum modo parece que isso fala muito da natureza da arte (ou de um certo tipo dela). Uma arte que sempre se dirige para fora dela mesma, que se refere não a ela mas à vida, aos outros tempos e espaços vividos. 
Uma arte que encontra sua necessidade de ser, de existir fora dela, que nasce de uma necessidade sempre extra-artística.

Um pouco como o que diz o escritor francês Le Clézio, em seu livro Haï: “Estas três etapas que tiram o homem indígena da doença e da morte não seriam elas mesmas que demarcam os caminhos de toda criação: iniciação, canto, exorcismo? Um dia talvez saberemos que não houve arte mas somente medicina.” – referindo-se 
a uma função da arte que poderia ser definida como ritual, por um lado, ou clínica, por outro. A arte como o lugar de uma cura, e portanto de uma transformação, de um aprendizado. E, daí, a ideia de que a arte, a poesia, pode ser um modo de criar novos pensamentos, novas visões, novos modos de relação política e social. Novos modos também de circular pelos espaços e de mapear os espaços de que participamos. A poesia como uma prática de mapeamento e de criação de sensações, percepções, olhares, escutas.

Pensar a poesia e suas conexões com outros lugares, bem como a ideia dela mesma como esse território de intersecções constantes, é então abrir o pensamento para isso, para olhar as relações que tornam a poesia necessária e interessante, viva, hoje para nós.

A motivação desse livro veio das Jornadas de Poesia, realizadas no Grupo de Pesquisa de Poética (PUC-SP/ CNPq), 
ligado ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP. Reúne-se aqui um pequeno grupo dos tantos convidados que estiveram no Grupo desde 2012. A todos eles, este livro é dedicado.

SOBRE OS AUTORES

Annita Costa Malufe

Professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP. Doutora pela UNICAMP, autora de Poéticas da imanência: Ana Cristina Cesar e Marcos Siscar (7Letras/ Fapesp, 2011), e dos livros de poemas Quando não estou por perto (7Letras/ Petrobras, 2012), Um caderno para coisas práticas (7Letras, 2016), dentre outros.

Carlos Eduardo Siqueira

Professor do Curso de Letras da PUC-SP e do curso de especialização em Literatura da PUC-SP. Mestre em Literatura e Crítica Literária pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP (2008). Autor do livro A lírica fragmentária de Ana Cristina Cesar: autobiografismo e montagem (EDUC, 2010).

Cecília Almeida Sales

Professora titular do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Processos de Criação. Autora dos livros Gesto inacabado (1998), Crítica Genética (2008), Redes da Criação (2006) e Arquivos de Criação: arte e curadoria (2010).

Fabio Roberto Lucas

Doutorando em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP (CNPq), com pesquisa sobre Paul Valéry. Graduado em Letras e Filo­sofia, fez especialização pela USP em Literatura. É tradutor do francês.

Júlia Studart

Professora da Escola de Letras da UNIRIO. Publicou O Dançarino Subtil (Ed. Caminho/Leya, 2016); Logomaquia (Ed. 7Letras, 2015); Nuno Ramos – Ciranda da poesia (EdUERJ, 2014); Arquivo debilitado – o gesto de Evandro Affonso Ferreira (Dobra, 2012); Livro Segredo e Infâmia (Editora da Casa, 2007) e Wittgenstein & Will Eisner – se numa cidade suas formas de vida (Lumme Editor, 2006).

Manoel Ricardo de Lima

Professor da Escola de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO. Publicou Geografia Aérea (Ed. 7Letras, 2014), A forma-formante – ensaios com Joaquim Cardozo (EdUFSC, 2014), Aníbal Cristobo – Ciranda da poesia (EdUERJ, 2013); Jogo de Varetas (Ed. 7Letras, 2012); Fazer, lugar – a poesia de Ruy Belo (Lumme Editor, 2011) entre outros. Coordena as coleções Móbile (Lumme Editor) e Ruy Belo (Ed. 7Letras).

Maria Aparecida Junqueira

Professora e coordenadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP. É líder do Grupo de Pesquisa Estudos de Poética: Interconexões Diacrônico-Sincrônicas na Poesia Brasileira e Portuguesa (PUC-SP/ CNPq). Tem obras organizadas sobre poesia, capítulos de livros e artigos em periódicos acadêmicos.

Roberto Zular

Professor doutor de Teoria Literária e Literatura Comparada na USP. É coautor dos livros Sereia de papel – visões de Ana Cristina Cesar (EdUERJ, 2015) e Escrever sobre escrever – Uma introdução crítica à crítica genética (Martins Fontes, 2007). Organizou também Criação em Processo – ensaios de crítica genética (Iluminuras, 2002).

Descrição do produto

TÍTULO: Poesia: entre-lugares
AUTORES: Annita Costa Malufe e Maria Aparecida Junqueira (org.)
SELO: Dobradura Universitário
ACABAMENTO: Brochura
FORMATO: 14 x 21 cm
Nº DE PÁGINAS: 156
ISBN: 978-85-8282-054-4
EDIÇÃO: 1
ANO: 2016

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