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Uma lenda antiga do deserto mexicano fala de La Loba, aquela que, sob o sol feroz, recolhe ossos. A velha procura, sobretudo, ossos de lobos. Quando em sua casa, numa noite fria aquecida por uma fogueira, La Loba vê que juntou todos os ossos de um esqueleto de lobo — ela se senta, toca e canta. Com seu tambor e seu canto, o esqueleto se recobre de carne, de vida, de movimento. Um lobo-mulher redivivo pela música da velha passa a correr pelo descampado. Lembrei-me dessa lenda ao ler versos de Sem lugar a voz cuja imagem-prima são os ossos, entre eles, os de ”Senda”: ”caminhamos o tabuleiro/ sob colunas confortáveis de ossos//quando os ossos foram apresentados/caminhamos onde ainda era o fim”. Imagino ser oportuno aconselhar o leitor a recolher ”toda vida azul cerzida por três bolivianas moiras tecendo ossos” e a descobrir o canto, a música e os sentidos — por vezes tortuosos, por vezes quebrados —, que reavivarão este corpo velado, exposto e descoberto que é o conjunto de poemas que forma Sem lugar a voz.

Sem lugar a voz me lembra ainda mais de Orfeu que após o retorno do Hades soube que ”olhar um rosto é lentamente — difícil terror na noite dentro”. Ao ler e reler estes poemas, como Orfeu, estou olhando para trás e revendo lenta e eternamente a imagem de Eurídice se perder: ”olhar um rosto é dizer nunca mais”. Vejo este Orfeu que segue preso ao Hades cantando estas paisagens secas, áridas, arenosas, estanques, ocas deste lá. Cantando sobre todos o ”nunca mais” que trazemos de lá, o ”nunca mais” que deixamos lá — quando todo retorno é já uma grande partida. Diria que este Orfeu que canta em Diogo Cardoso canta também os troncos mortos e caídos dos carvalhos em que se transformaram as mênades que despedaçaram o amado de Eurídice.

Estou procurando o lugar, dentro deste sem lugar, em que esta voz ”abafada”, ”amordaçada”, ”adiada”, ”desesperada” encontra o seu canto e o seu idioma. E o encontro no sétimo poema de ”Bilhetes para auto-exílio”: ”num lugar espaço/aberto entre/o abraço e o infinito”. Este lugar que é o próprio poema cantando de dentro: de dentro do silêncio, de dentro das palavras, de dentro dos gritos ocos, de dentro da sintaxe de uma língua quebrada, de dentro da solidão e da amizade. Estes poemas, uma perambulação pelas ruínas dos sentidos, são também uma procura pelo idioma próprio que seja forjado de dentro da língua portuguesa e de uma conversa profunda com aqueles que sabem que ”A morte canta-me ao fundo./É um canto absoluto

Bia Lopes

SOBRE O AUTOR

Diogo Cardoso é bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo. Participou de diversos projetos literários, dentre eles o sarau Faça pArte, em parceria com o departamento de cultura de São Bernardo do Campo, Leitores itinerantes, sob curadoria de Tarso de Melo e foi um dos curadores do projeto Clarice Lispector:. Frequentou 
diversas oficinas literárias, dentre elas Tantas Letras, sob coordenação de Tarso de Melo, e de Criação poética, 
sob coordenação de Claudio Willer. Têm publicações em diversas revistas literárias, impressas e virtuais, dentre as quais Polichinello, Zunái, Mallarmargens e O Cacto. Atualmente, é integrante do coletivo Tantas Letras.

Descrição do produto

TÍTULO: Sem lugar a voz
AUTOR: Diogo Cardoso
SELO: Dobradura Literatura
ACABAMENTO: Brochura
FORMATO: 11,5 x 19 cm
Nº DE PÁGINAS: 88
ISBN: 978-85-8282-049-0
EDIÇÃO: 1
ANO: 2016

Informação adicional

Dimensões 2 x 14 x 21 cm

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